Deixa eu explicar uma coisa sobre o que temos visto sobre o fact-checking nas pesquisas pq o pessoal não entendeu bem. Senta, que vem outra thread gigante. [1]
O fact-checking (e o jornalismo) são ferramentas importantíssimas para o combate à desinformação. Isso é fato. O problema é que esse tipo de conteúdo não circula sozinho. O que eu quero dizer com isso? [2]
Mais do que produzir conteúdo de qualidade, o problema da mídia social é que a circulação do fact-checking depende de ações dos nós da rede (ou das plataformas). [3]
Ou seja, é preciso uma estratégia dupla: Primeiro desmentir e depois circular. A questão é que, com a polarização, os grupos se afastam nas conversações. É um processo dinâmico, temos um núcleo fechado (mais radicalizado) e outros atores na borda que vão "fechando" a bolha. [4]
Deste modo, o conteúdo verificado fica na borda, não entra pq é filtrado justamente, por esses atores que alinham ideologicamente todo o conteúdo que circula. E com esse "alinhamento", eles vão delimitando o que "se pode" ou "não se pode" dizer nesses grupos.[5]
É como se o fact-checking fosse um grupo de bombeiros com baldes e mangueiras combatendo um incêndio na beirada da floresta. Ajuda a não espalhar mais, porém, é preciso helicópteros e outras estratégias para apagar o incêndio no meio, para furar a cortina de fumaça. [6]
E parte dessas estratégias pode (e deve!) ser feita pelas próprias plataformas, seja utilizando os checadores para marcar conteúdo falso/fabricado; seja apontando que aquele conteúdo é "duvidoso" já na FONTE. [7]
Ou seja, usar a própria desinformação para linkar para o conteúdo checado. A questão é que falta poder de fogo para as plataformas, que não conseguem chegar tudo o que é produzido ali e nem sempre se alinham com os checadores. [8]
Claro, tem outras estratégias possíveis, como ações institucionais, governamentais e educacionais para tirar as pessoas desses grupos (que não se enganem, favorecem economia e politicamente outros atores e é exatamente para isso que a desinformação serve). [9]
Dito isso, o fact-checking é importantíssimo. Embora não circule no núcleo, ele impede que as bordas se ampliem e que o incêndio se espalhe por outros incautos que ainda não estão enlouquecidos. A questão é que ele não funciona como as pessoas pensam que funciona. [10]
O ponto fundamental é: Como circular o conteúdo informativo e desencorajar as campanhas desinformativas? É aí que precisamos de ação conjunta de governos, educadores, LEIS, instituições e etc. JUNTO com o fact-checking. [12]
E sobretudo, precisamos punir os atores q contribuem diretamente p/ o espalhamento de desinformação. Estou olhando p/ campanhas desinformativas s/ questões ambientais, e adivinhem quem são os principais "espalhadores"? Políticos q se beneficiam diretamente daquele discurso. [13]
Enfim, é uma questão complexa. Mas acho que falei aqui do que eu queria salientar que é 1)a importância do fact checking e 2) o "como combater" que todos me perguntam.[14]
@raquelrecuero
Pergunta d quem não é da área: como fazer o fact-checking chegar nessas bolhas se os veículos são desacreditados? Por mais q seja verificada, uma informação dada por um veículo ideologicamente oposto é ignorada, por conta do veículo em si.
@p_casarotto
A mera ação das plataformas de "marcar" o conteúdo que já foi checado na origem (ou seja, ele aparece com uma marcação de - "foi checado e é falso" ou "foi checado e é incompleto" ou qualquer coisa do tipo) já desencoraja a circulação.