Essa é exatamente a lógica defendida por Bolsonaro qdo apresentou o chamado "isolamento vertical", no início da pandemia. A frase foi: "cada família que cuide do seu idoso". Parece contraditório com o caso da menina de 10 anos? Não é. Explico: 7/13
Minha contribuição em fio sobre o caso da menina de 10 anos (e sobre Paulo Guedes/Damares Alves):
Sou pesquisadora do Observatório de Gênero
@sxpolitics
que atuou no caso e acompanho a atuação de grupos cristãos de direita, entre outros grupos bolsonaristas, há alguns anos 1/13
Nas análises, ainda é comum a separação do governo entre as "pautas morais" e o "projeto econômico" - como se fossem coisas separadas. Ou ainda a ideia de que as "pautas morais" sejam mera distração (cortina de fumaça) para encobertar aquilo que realmente importa (economia) 2/13
As chamadas "pautas morais" (leia-se questões de gênero, raça e sexualidade) não são e nunca foram mera distração: 1) pq são a própria base da reprodução de desigualdades 2) pq o projeto de Guedes é co-dependente do projeto da Damares. Explico pq: 3/13
Ambos ministérios (de Guedes e Damares) operam juntos no processo de "desdemocratização" em curso no Brasil. Qdo se trata de pensar a crítica ao neoliberalismo, Wendy Brown é uma das principais ref. no BR, mas Melinda Cooper tbem nos ajuda a entender isso 4/13
Em Family Values, Cooper analisa como a "família" é essencial qdo se reduz investimentos na área de educação, saúde e seguridade social. O Estado transfere essas responsabilidades pras famílias que passam a arcar com o cuidado das crianças, idosos e doentes 5/13
Ainda as famílias se endividam cada vez mais pra pagar serviços privados. Assim, a defesa da "família" (de um certo modelo restrito de família) não é apenas parte de uma moralidade, é também parte de um projeto econômico baseado em uma lógica individualista e privada 6/13
O que os grupos religiosos defendem é a "privatização" de uma questão que deveria ser pública, mediada pelo Estado, no campo dos direitos e não no campo da religião - já que a legislação brasileira já tem marcos legais para lidar com a questão 8/13
O que esses grupos propõem é a inversão da máxima "o pessoal é político" com a defesa de que questões de direitos e, minimamente, universalizáveis sejam tratadas como particulares e no campo das moralidades e crenças religiosas 9/13
Pra quem pediu ref. dos meus trabalhos sobre isso: logo deve ser publicada a pesquisa que fiz pra
@rosaluxstiftung
sobre o lugar da família na articulação entre Guedes e Damares 10/13
E tem ainda o artigo pra
@conectas
que foi publicado em PORT, ESP e ING e trata de como essas questões estão se materializando no judiciário e no legislativo 13/13